CAMPO EM BRANCO

Dois irmãos, separados pelo tempo e pelo espaço, se reencontram numa cidade estrangeira. Não sabemos ao certo onde estão, tampouco conhecemos os caminhos que os afastaram e os uniram agora. As lembranças de Lúcio, o irmão mais novo, dão conta de um relacionamento distante, talvez frio, mas nem ele parece ter certeza disso. Conforme Mirko dispara num monólogo sem fim, Lúcio tenta entender o que seu irmão mais velho quer com ele ali. A ideia, ao que parece, é refazer uma viagem da infância de ambos, quando visitaram com um tio uma cidade nas montanhas. Ao chegar ao topo de uma trilha, teriam encontrado os Gigantes, uma formação rochosa que Mirko agora quer rever. Depois de alguma deliberação, eles partem no Urso, uma lata velha caindo aos pedaços, em busca da cidade, da trilha, dos Gigantes. Só que Lúcio não se lembra dos Gigantes, não se lembra da viagem. Quando fixa alguma imagem desse passado quase mítico invocado pelo irmão, ela escapa, quase como a dor fantasma de um membro amputado. Numa trama sobre família e memória, o escritor Emilio Fraia e o quadrinista DW Ribatski tratam com doses iguais de suspense e humor, doçura e medo, a viagem desses dois irmãos. A arte vibrante de Ribatski e a prosa evocativa de Fraia combinam-se num road movie às avessas, onde a viagem só começa quando podemos reconstruí-la, desmontá-la, inventá-la.